quarta-feira, 8 de abril de 2009

Oscilando


Oscilando por entre vossas merdas e manias
entre o barulho das vossas vozes e a surdez do coracão,
Oscilando invés de simplesmente cair e vomitar-vos
entre os olhos,
Oscilando no fio que não fui eu que construi
entre a vossa verdade e a mentira que me ensinaram,
Oscilando segundo a loucura
entre a queima de bruxas e o voar de seres celestes.


Oscilei até esse fio se quebrar..
até a vossa mentira não ecoar em mim
até a surdez me ajudar a fugir
até a loucura se apoderar das minhas visceras...



Oscilei outr´hora.. hoje estou de pé!

E de pé, defendendo esse equilibrio.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sem vida. Morto


Dilacerar-te...
Sentir o teu sangue quente escorrer pelas minhas mãos,
o teu corpo morto e frio ao alcance dos meus olhos.

Sem vida. Morto.

Requinte de Malvadez...
Inspirado na secreção das tuas palavras,
lânguido ser tu foste.

Sem vida. Morto.

Dia de chuvas...
de lavar-te e ver a blindagem da acatarsia que te fazia atingir-nos,
de testar a tua teomania.

Sem vida. Malograr-te.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

anestesia fisica





Larguei-me. Caí.
Ainda bem que fi-lo. Cair foi extasiante, bom e saboroso. Fiquei com os punhos em carne viva de tanto me agarrar, agarrava-me com as forças que não conheço, com o desejo que me lacerava em pedacinhos tão ínfimos que, por vezes, o sabor desse desejo era amargo, mas eu persisti. Em ficar agarrada, em permanecer. Cosi a boca, com uma agulha e uma linha que tinha por perto, no quarto escuro, subi para uma cadeira e atei os pés, agarrei o ferro que saía do tecto com determinação e, já com o corpo suspenso, mandei um toque na cadeira que caiu no chao.
Ali estava eu, a suster o peso do meu corpo sem hesitar. Foram dias seguidos, noites seguidas, em que nada se passava e eu ja não sentia os braços nem o corpo que me pertencia. No escuro esforçava os meus olhos a estarem semi-abertos, foram dias seguidos, noites seguidas sem dormir, sem sentir o fisico. Que ideia mais masoquista! Mas eu precisava de anestesiar o involucro, precisava de perder a noção do terreno, precisava de viajar até dentro, o mais profundo da dor fisica, até ao esgotamento.
A minha ideia nunca foi matar-me, foi adormecer-me. Se eu quisesse pôr termo a vida não era assim certamente que iria conseguir. Ao adormecer cada músculo cada célula cada átomo do meu corpo, com Dor. De alguma forma sabia, que atingiria o meu interior. Tantas vezes damos mais tempo, mais utilidade, mais credibilidade, ao exterior que o interior definha como uma planta sem alimento. Absorvi-me pelo exterior e só anulando essa parte é que eu chegaria a encontrar o meu eu mais profundo.
Dias e Noites, até perder a noção do tempo e do espaço, de quem sou e o que sou, e nessa mistura hibrida de dor, programada/consentida, atingi-me onde queria. Encontrei o que procurava. Deleitei-me e apreciei numa sofreguidão infantil. Conheço os meus limites. Soube que era o momento de largar-me. Se determinasse ficar um pouco mais nesse interior jamais iria conseguir voltar. Caí. Numa queda suave e serena, na qual os breves nanosegundos que demorei a atingir o chão frio e sujo, serviram de ligação ao mundo exterior. De corpo latejante em dores, deixei-me ficar esperando que alguém abrisse aquela porta velha daquele quarto escuro, perdido algures no centro da cidade, junto à foz do rio - também estive na foz de mim.
A porta deixava passar os assobios do vento agressivo que se fazia sentir num dia de verão, que fazia inveja a qualquer tempestuoso e rigoroso inverno.
Tu, lá fora, procuravas por mim. E eu, cá dentro, esperava agora que me encontrasses.
E mais uma vez, tudo está onde deve estar, é a Ordem Celeste a imperar.

Post scriptum - Por favor encontra-me!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Gente Amarga (prendas vs afectos)

O cheiro a cigarro, o barulho ensurdecedor das vozes mesquinhas de pessoas que esterilmente deambulam entre os corredores... todo o retrato duma sociedade, de um País em tão escassos metros quadrados.
Futilidade reflectida nas montras repletas de manequins de olhares vazios, de almas inexistentes que esboçam sorrisos gentilmente ensaiados de forma conveniente.
Se penso nisto enlouqueço mas se não penso e pactuo só posso estar deveras inconsciente.
Todo este cosmopolitismo enjoa-me!
Mecanicamente, tudo parece encaixar menos eu. Sinto-me demasiado Grande para conter a respiração e viver enclausurada nesta insensatez democraticamente aceite pelos Outros!
Fecundo a minha alma de gritos e desabafos.
Não pertenço aqui, não tolero o bafio desta gente amarga..
Tentam comprar os afectos como quem compra um kilo de laranjas ou de outra coisa qualquer. Rostos cinzentos e de olhos postos no chão seguem seus caminhos metidos com o seu umbigo, quando desviam o olhar do chão ora é porque encontram-se no alcance de alguma montra concerteza, se cruzam olhares com outros passageiros daquelas paragens, fazem-no de forma gélida e apagada.
Amarga gente, que desfilam vestidos de orgulho e presunção, afinal é natal, é preciso não esquecer ninguem na lista das prendas, mas é só nesta época pois no restante ano nem se lembram que a maior parte dessas pessoas a quem oferecem prendas existe nesta Dimensão!
Vou para casa é hora de começar a preparar a Ceia para apenas duas pessoas, não há prendas esta noite, mas na minha casa existem Afectos.


(Este texto foi escrito numa tarde chuvosa, remonta ao ano de 2007, lá estava eu sentada no centro comercial sem paciência nenhuma para lá estar. No meio de uma multidão frenética com as compras de um Natal cada vez mais plástico. Não tenciono ferir suceptibilidade de ninguem ao referir as pessoas que insistem em viver a vida de um modo obsessivo de consumismo, apenas é o meu ponto de vista.)

Mercenário


vendi a alma a um mercenário.

levou-me tudo e deixou-me apenas:

este corpo

esta dor

este vazio.


vendi a alma por inconsciência

numa troca de palavras

deixei que a levasse

quis uma vida descomprometida.

anulei-me ! matei-me!

a mim, ao meu mundo, aos Meus

vaguei-o sem memória de outr'hora ter imaginado isto

cai no ridiculo abismo da existência!


devolve-me a alma mercenário devolve-me a vida.


vendi-me, por:

1 punho de mentiras

1 saco de vicio

1 dose de ilusão...

Desarruma-me os sentidos


Chega aqui se faz favor. Abraça-me. Preciso de sentir o teu corpo entrelaçado no meu.

Solta os teus risinhos nervosos quando as minhas pontas dos dedos tocarem gentilmente o teu corpo. Encosto-te a parede. Adoro fazê-lo. Inclino os meus lábios sob o teu pescoço e sorvo o teu aroma, quero-te aqui e agora!

Desaruma-me os sentidos..

tudo está onde deve estar


Tudo está onde exactamente deveria estar. É a Ordem Celeste sempre notável.
Em determinada altura da minha vida este pensamento tornou-se a chave para olhar em redor e fazer uso de todas as minhas capacidades, das ferramentas que me são dadas e dos ensinamentos que me são útilmente transmitidos sob as mais diversas formas.


A noite passada, segui até Ti. Precisava ansiosamente olhar nos teus olhos e dizer algumas palavras que me desferiam golpes silenciosos sob o coração. Não estavas no quarto, entrei e sentei-me sob a cama desfeita que me deixava adivinhar teres passado o dia nela estendida, perdi o olhar alguns segundos no Passado. Revi-te cheia de ambições saudavéis e imenso potencial.
A porta abriu-se eu sabia que eras Tu. Vazia. Fútil. Estéril. Altivamente arrastaste os teus pés até a toalha que te estava próxima e balbucias-te que irias tomar um duche e dormir. Desculpa mas não tinha feito aquele caminho para cair nesse teu jogo de manipulação. Não uma vez mais.
Disse-te aquilo que te tinha a dizer peguei nas minhas coisas e vim embora com o coração a controcer de desgosto.
Entrei no carro, congelada, como se o meu corpo de um grande cubo de gelo se tratasse. Estava amarga e definitivamente mergulhada em mim.
Contudo, não estava sozinha. A minha fiel Companheira, de todas as horas, ali estava junto de mim. Docemente, levou-nos até onde eu queria estar sem ser preciso pedir-lhe. Era mesmo ali, junto ao Mar,na ponta mais ocidental deste continente onde se ergue o farol que me apetecia estacionar o pensamento. Reconfortada, no seu ombro deixei a minha cabeça pender. Disse-me para pedir um Desejo porque acreditava que seria possivel realizar-se. - assim o fiz. Só um Desejo parecia tão pouco para satisfazer tudo aquilo que necessito. Então, pensei numa palavra. Paz. Acordei a teu lado na manhã seguinte.
Tudo estava onde deveria estar. Tu a meu lado e eu do teu. A Ordem Celeste respondeu ao que lhe pedi. Aquilo que tu chamas de Desejo eu vi como Oração. Não importa o nome que lhe possa dar, importa apenas que tudo estava onde deveria estar. Acredito que assim seja sempre. Foi um momento de Oração concentrado numa palavra, era o que eu precisava, hoje acordei e percebi que tu és realmente o meu elixir de Alegria.
Obrigado por existires na minha Vida, existires nos bons e nos menos bons momentos. Obrigado Ordem Celeste que recebes as minhas Orações e me iluminas o caminho.

Sempre Tua,

Halo*